Arquitectos e Decoradores, supérfluos ou necessários?

A propósito de um consultório de Estomatologia na Parede






Como, com simplicidade e economia de meios, mas com gosto e sabedoria, se conseguiu transformar um modesto e pequeno apartamento, na Parede, num agradável e amplo consultório.

O doente / cliente, ao entrar neste novo espaço, é envolvido por um ambiente calmo e acolhedor e, agradavelmente surpreendido, sente que entrou num lugar pensado para ele.

O consultório deixou de ser um lugar frio e triste, para onde se ia esperar e sofrer! Passou a ser apreciado pela atmosfera de carinho e respeito em que envolve os clientes e estas intenções conseguem-se, com simplicidade, sem grandes custos!

Tudo resulta, apenas, de como se vêem e abordam os problemas e como participamos (ou não) na criação do “bem-estar”, que se reflecte, naturalmente, na Sociedade em que nos integramos e, consequentemente, em nosso benefício próprio .

Aproveita-se este exemplo para perguntar: Quando as estatísticas nos dizem que apenas 5% dos projectos construídos em Portugal são assinados por arquitectos e muito menos por decoradores, será porque estes técnicos são mesmo supérfluos?

Quando se lê que a “qualidade de vida” que a publicidade imobiliária nos oferece, geralmente se resume aos acabamentos de luxo, electrodomésticos e parabólicas, não mencionando, na sua grande maioria, como outro aliciante os autores dos projectos, será porque, estes, são mesmo, supérfluos?

Ou será porque se vai perdendo, a favor do supérfluo, a verdadeira noção de qualidade de vida?

Esquecendo-se, o lugar, Sol e  a importância da proporção, da harmonia, das formas, dos espaços e a sua interligação!

Se quando se tem problemas como com a visão, não se consulta o economista, mas sim o oftalmologista, e quando se tem dor de dentes não se consulta o oftalmologista (embora também seja médico), mas sim o especialista nesta matéria - o estomatologista - porque não se toma, finalmente, consciência da necessidade de consultar arquitectos e decoradores quando se pretende a desejada Habitação?

Tudo seria mais simples, claro e acolhedor, como este exemplo tão bem o demonstra.



Publicação em "Espaços de trabalho", Agosto, 1989, pp.79-80