Lisboa, 1992

"virar a cidade ao rio"

Sob a constatação da permanente destruição de edifícios existentes para serem construídos novos, sem qualidade ou beleza, pretende-se demonstrar que se conseguem igualmente bons índices de construção à escala do sítio e "virar a cidade ao rio".


 









CINCO PRINCÍPIOS PARA A MANUTENÇÃO DA ESCALA HISTÓRICA DE LISBOA












DOIS PRINCÍPIOS PARA VIRAR A CIDADE AO RIO



DOIS PRINCÍPIOS PARA PROMOVER O DEBATE E A PRODUÇÃO DE IDEIAS
PLANO PARA :
ATERRO DA BOAVISTA NASCENTE E POENTE
Exposição em Sessão da Assembleia Municipal da Câmara Municipal de Lisboa

8 de Fevereiro de 2011



Sr Presidente da Assembleia Municipal, Srs Deputados, Sr Presidente da Câmara e Srs Vereadores, muito Boa Tarde.

Gostaria de partilhar com esta Assembleia, as preocupações que tive ocasião de expor na sessão pública da N/ Câmara Municipal, no passado dia 12 de Janeiro.



Não entendo, porque será que, os Planos em curso para a zona ribeirinha do Aterro da Boavista, onde trabalho e sou proprietário, não cumprem os Objectivos do Plano Director Municipal, recentemente aprovado.



A questão de fundo que se coloca, é saber, se vamos deixar que se degrade ainda mais, a identidade da nossa Cidade e, consequentemente, aceitarmos a crescente deterioração da nossa qualidade de vida.



Os Objectivos do Plano Director são claros e passo a citar:



- defesa e reforço da Imagem da Cidade
- valorização da identidade de Lisboa e que a tornam única,
- devendo-se destacar, a relação com o Tejo e a vida de bairro



Para tal o Plano Director propõe:



- promover os bairros, como unidades estruturantes, adaptando a sua escala,
- promover o desenvolvimento urbano mais compacto;
- promover o reforço da visibilidade dos bairros históricos;
- e intervir de forma integrada, na requalificação da frente ribeirinha



Em resumo, por um lado, aprovamos um PDM que claramente diz, que devemos preservar e promover a escala dos nossos bairros históricos “que tornam a Cidade de Lisboa única”, mas por outro lado e, sem motivo aparente, – vamos permitir que se construa, na nossa frente ribeirinha, cada vez mais alto, mais fragmentado, obstruindo a visibilidade dos bairros históricos, que pretendemos promover!



Disse, sem motivo aparente – dado não pretender questionar os índices de construção propostos (eventualmente, com excepção do índice para o novo edifício da EDP, que desconheço) nem a qualidade da arquitectura dos seus edifícios.



Mas, quando as zonas envolventes consolidadas, têm num máximo 5, 6 pisos, porque motivo se propõem edifícios com 8 e 9 pisos, quando, com os mesmos índices de construção e de permeabilidade de solos, podemos construir mais baixo, isto é, à escala da malha histórica, onde nos pretendemos integrar?



Penso que estaremos de acordo, que os prédios que foram construídos, nos últimos anos, no Aterro da Boavista, estão dissonantes e fora de escala, mas depois deste desabafo, vamos construir, edifícios ainda mais altos e mais dissonantes?!



Quando o PDM propõe uma malha compacta, vamos permitir que se construa uma malha mais fragmentada?



Antes do acto consumado, importa reflectir, sobre as consequências desta opção: não irá acentuar, como já disse, a degradação da Identidade da nossa Cidade e uma maior segregação urbana, entre o novo e o antigo?



Não se trata apenas de uma questão “estética” ou de “harmonia”!



Todos sabemos, que a segregação urbana é potenciadora da segregação social e, consequentemente, com a aprovação destes Planos não estaríamos a promover, embora inconscientemente, mais descontentamento, rastilho para o vandalismo e a revolta?



Em suma, não estaríamos a ser coniventes na promoção de mais insegurança e mal estar, que os recentes motins em Paris são exemplo?



Sr Presidente e Srs Deputados



Como referi na exposição apresentada na Sessão Pública da Câmara, penso que o eventual dilema é fácil de resolver: basta respeitarmos o Plano Director Municipal!



Isto é, como já referi, não estando em causa o número de metros quadrados de construção, é tudo uma questão simples de desenho urbano!



Assim, basta, simplesmente, respeitar a envolvente histórica do Aterro da Boavista:



- os enfiamentos das suas vistas,
- a escala dos seus edifícios
- e a sua malha compacta, de ruas e praças
- para tudo se interligar suavemente, harmoniosamente e de forma integrada.



Penso não ser difícil nem complicado.



Muito embora aprecie a arquitectura de excelência dos meus colegas, Gonçalo Byrne e Manuel Mateus, penso que estaremos de acordo, que não desejamos que a nova sede da EDP projectada para a nossa frente ribeirinha e a caminho do Terreiro do Paço, venha a resultar num novo “Estoril Sol”.

O Sr Vereador Arqtº Manuel Salgado justificou, que o Plano para o Aterro da Boavista Nascente, tinha sido realizado por concurso público e que já tinha sido aprovado pelo Município após consulta pública, o que desconhecia, muito embora, há muitos anos venha, periodicamente, solicitando ao Município e ultimamente ao Sr Vereador, uma reunião, sobre estas questões.



Pelo exposto, antes do “facto consumado” e “mais vale tarde do que nunca”, venho fazer um apelo a esta Assembleia:



Peçam para reavaliar este Plano e naturalmente estarei disponível para, com mais pormenor e desenhos, melhor explicar estas minhas preocupações.



Se o PDM diz



- “que Lisboa precisa de um projecto mobilizador, o que implica ser entendível por todos”
- que se deve estimular a participação e um maior envolvimento dos cidadãos
- como promoção da diversidade e combate à monotonia



Permitam-me, como cidadão, arquitecto, bem como, trabalhador e proprietário na zona, que, calmamente, sem sectarismos nem secretismos, possa reapreciar com V. Exªs estes Planos e que não se descambe numa discussão na praça pública, do tipo entre bons e maus, em que já sabemos, ninguém sai beneficiado.



O desafio que faço, ao Município e aos meus Colegas, é de demonstrarem que, com os mesmos índices de construção, não é que imitem o antigo, longe disso, mas que continuem a projectar actual, tirando partido, do verdadeiro e saudável progresso, de uma inovadora arquitectura de excelência, mas, ao mesmo tempo, respeitando a Cidade, a escala humana das suas ruas, praças e bairros.



Sr Presidente e Srs Deputados, penso que todos gostaríamos de ser lembrados, como a geração que, finalmente, reintroduziu a esperança nos lisboetas, no seu dia a dia cada vez melhor, promovendo Planos, motivadores de serem multiplicados no futuro!



Porque apenas ir privilegiar meia dúzia, se é tão simples, como se vê, todos ficarmos satisfeitos e mais motivados?



Sr Presidente e Srs Deputados, tenho esperança que este meu apelo seja considerado e que estes Planos sejam reavaliados e assim V. Exªs sejam lembrados como os que, finalmente, fizeram que Lisboa voltasse a “nos despertar orgulho” e a ser uma Cidade “onde dá gosto viver, trabalhar e investir”.



Para isso, basta simplesmente, que respeitemos o Plano Director Municipal, recentemente aprovado!



AUGUSTO VASCO COSTA